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VESTÍGIOS
Facões de metal e panelas estavam entre
os utensílios dos índios
 

Na primeira semana de fevereiro, imagens inéditas de índios supostamente isolados em meio à floresta amazônica chamaram a atenção de todo o mundo. Fotos e vídeos da tribo, descoberta em maio de 2008 por uma expedição área da Fundação Nacional do Índio (Funai), voltaram ao noticiário com ares de um achado antropológico. O flagrante dos indígenas vivendo de forma primitiva na região fronteiriça entre o Brasil e o Peru foi divulgado pela rede britânica de televisão BBC e por uma organização não governamental do mesmo país, a Survival International, como o novo registro visual de uma população que estaria até hoje sem contato direto com o homem branco. Porém, uma observação mais atenta das fotos deixou evidente a presença de utensílios modernos, como facões e panelas, entre as ferramentas usadas pelos índios. Logo, a polêmica estava criada. Seria verdade a existência de um povo totalmente intocado no Brasil?

Segundo Elias Bigio, responsável pela coordenação-geral de índios isolados e recém contactados da Funai, a tribo em questão não pode ser descrita como intocada. “Não sabemos exatamente se eles adquiriram aqueles objetos por meio de coleta ou escambo com outros indígenas, mas certamente são índios com um passado traumático de confrontos com o homem branco”, diz Bigio. Esses encontros teriam ocorrido durante as várias frentes de colonização realizadas tanto no Peru quanto no Brasil, desde o século XVI. “O que nós podemos afirmar é que eles estão isolados por opção e provavelmente fugiram do território peruano para se proteger do crescente avanço dos madeireiros.” A exploração da madeira no país vizinho carece de fiscalização e é apontada por organizações não governamentais internacionais, incluindo a Survival International, como uma das maiores ameaças ao bem-estar dos povos indígenas da região.

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FLAGRA
Índígena observa o avião da Funai. 
A população estaria fugindo de madeireiros do Peru
 

“A divulgação dessas imagens tem como objetivo mostrar as dificuldades que enfrentamos ao tentar que países reconheçam a existência de tribos isoladas”, afirmou Bigio, que defende a parceria entre ONGs e a Funai. “As organizações não governamentais não atuam diretamente nas expedições de monitoramento dos povos isolados, mas nos ajudam a captar recursos para essas viagens.” Entre os auxílios, estão a compra de equipamentos como rádios transmissores e até o custeio do combustível do avião monomotor utilizado nas incursões pela selva. Mas qual seria o real interesse dessas ONGs na propagação da ideia de que existem povos amazônicos sem contato com a civilização? De acordo com o site da Survival International seu objetivo é apenas defender a preservação do território indígena. E, ao que tudo indica, mesmo correndo o risco de levantar polêmicas sobre a veracidade e propósito de suas ações.