Política Bolsonaro

Bolsonaro diz que jornalistas são 'espécie em extinção'

Presidente afirmou que cancelou assinaturas impressas do Palácio do Planalto de jornais e revistas, porque veículos chegam 'envenenados'
O presidente Jair Bolsonaro 27/12/ 2019 Foto: ADRIANO MACHADO / Reuters
O presidente Jair Bolsonaro 27/12/ 2019 Foto: ADRIANO MACHADO / Reuters

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que quem lê jornais fica "desinformado" e que jornalistas são "uma espécie em extinção". Bolsonaro ainda ironizou a situação e disse que jornalistas precisam ser cuidados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).

— Vocês são uma espécie em extinção. Eu acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama. Vocês são uma raça em extinção.

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Bolsonaro criticou uma reportagem do portal "Uol" que mostrou que, mesmo criticando o atual fundo eleitoral, o presidente utilizou verba pública nas eleições de 2014, quando se reelegeu deputado federal. Bolsonaro disse que a reportagem é uma "imbecilidade", mas ressaltou que não criticaria todos os jornalistas "para não ser processado" pela Associação Nacional de Jornais (ANJ).

— Falei para vocês aqui: não votem em candidatos que usem o fundão. Aí o Uol falou: Bolsonaro falou para não votar em candidatos que usem o fundão, mas ele usou em 2014. O fundão é de 2017. É de uma imbecilidade. Lamentavelmente, né. Não vou dizer todo mundo aqui, para não ser processado pela ANJ e não sei o que. Mas é de uma imbecilidade. Não sabe nem mentir mais. Não me acusem de ter crucificado Jesus Cristo, não, por favor. Então, esse tipo de informação atrapalha todos vocês. Cada vez mais gente não confia em vocês. E eu quero que vocês realmente sejam uma força no Brasil. É importante a informação e não a desinformação ou fake news.

O presidente ainda ressaltou ter cancelado as assinaturas de jornais e revistas impressos  do Palácio do Planalto e disse ter feito isso porque os veículos chegam "envenenados".

— Por exemplo, eu cancelei todos os jornais do Palácio do Planalto. Todos, todos, não recebo mais papel de jornal ou revista. Quem quiser que vá comprar. Porque envenena a gente ler jornal. Chega envenenado.

Após a repercussão da fala de Bolsonaro, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) divulgou uma nota em defesa do jornalismo. No texto, assinado pelo presidente da instituição Paulo Jerônimo de Souza, a ABI chamou a declaração de "estapafúrdia".

"O país e o mundo têm sido surpreendidos, a cada momento, por declarações estapafúrdias do presidente da República e de seus auxiliares mais próximos. Até a manhã desta segunda-feira, a mais recente dessas declarações tinha sido a de que os jornalistas são 'uma espécie em extinção', que, como tal, deveriam ficar sob os cuidados do Ibama. O presidente não deve confundir o que talvez seja um desejo oculto seu com a realidade. Enquanto a informação for uma necessidade vital nas sociedades modernas, e ela será sempre, o jornalismo vai continuar a existir. E, com certeza, sobreviverá por mais tempo do que políticos inimigos da democracia, que, estes sim, tendem a ser engolidos pela história".

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também criticou as declarações do presidente, na seguinte nota:

"Em mais uma demonstração de ignorância sobre o papel da imprensa e seu próprio status de presidente da República, Jair Bolsonaro acusou meios de comunicação de publicar desinformação a seu respeito nesta segunda-feira. Na entrada do Palácio da Alvorada, declarou, enquanto cumprimentava eleitores: 'Quem não lê jornal não está informado. E quem lê está desinformado. Tem de mudar isso. Vocês são uma espécie em extinção. Eu acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama'.

O presidente comentava uma reportagem do UOL, segundo a qual ele usou recursos públicos em sua campanha a deputado federal em 2014: "É de uma imbecilidade. (...) Não sabe nem mentir mais".  Acusou, ainda, a Folha de S. Paulo de "usar mentiras". Em nenhum dos casos — como já é habitual — Bolsonaro apresentou fatos para contrapor a reportagem ou demonstrar o uso de mentiras.

Novamente, Jair Bolsonaro usa um discurso típico de líderes autoritários: diante de uma notícia que o desagrada, ataca o mensageiro, sem se preocupar em esclarecer o fato noticiado.

Se quer mesmo preservar o jornalismo e os jornalistas, basta o presidente obedecer a Constituição sob a qual governa e respeitar a liberdade de imprensa com declarações irresponsáveis e retaliações".