Rio

O drama de quem perdeu parentes na tragédia em Angra dos Reis

Bombeiros e voluntários trabalham no resgate de corpos em Angra - Custódio Coimbra
Bombeiros e voluntários trabalham no resgate de corpos em Angra - Custódio Coimbra

RIO - Os deslizamentos que causaram a morte de pelo menos 30 pessoas em Angra dos Reis começaram na madrugada do dia 1º de janeiro. No Morro da Carioca, o deslizamento da encosta ocorreu às 2h15m. Segundo o comandante do Corpo de Bombeiros de Angra, Jerri Andrade, seis casas foram soterradas e 11 corpos de vítimas retirados do local. De acordo com moradores, naquela área poderia haver ainda 17 pessoas sob os escombros. Até o final da tarde, havia 84 desalojados, sendo 50 adultos e 34 crianças. ( Confira as imagens do local )

A zeladora Vanessa da Conceição, de 27 anos, perdeu cinco parentes, entre eles o filho de dois anos. Ela morava com a avó e o filho:

- Eu estava deitada com meu filho e minha avó na cama ao lado, quando começamos a ouvir uma movimentação estranha do lado de fora. Minha avó pulou com o susto. Eu fui até a escadaria ver o que estava acontecendo, quando o barranco desceu, levando minha casa e a casa dos meus tios embora - contou Vanessa, que ainda tentou salvar a família. - Eu comecei a procurar por eles desesperadamente, mas um poste caiu e ficou tudo escuro. Foi quando eu ouvi um novo barulho e mais um deslizamento.

Desde os primeiros momentos, moradores de outros pontos vieram em socorro às vítimas. Foi o caso do gráfico Guilherme Canthé. Coberto de lama, ele estava no local há pelo menos 15 horas:

- Eu moro do outro lado do morro e, por volta de 1h30m, ouvi os primeiros estrondos. Corri para ajudar as pessoas. A cem metros do local onde eu estava, as casas caíram. Junto com outros voluntários, conseguimos resgatar um menino de 7 anos e mais dois adultos. Às 2h30m, veio mais uma avalanche e carregou alguns dos voluntários.

Já na paradisíaca Enseada do Bananal, os estrondos começaram às 2h30m, anunciando a tragédia. Toneladas de pedra e lama desceram atingindo parte da Pousada Sankay e mais as casas no entorno. Segundo a turista paulista Fernanda de Oliveira, alguns sobreviventes foram lançados ao mar:

- Nós viemos comemorar o ano novo aqui e aconteceu toda esta tristeza. Acordamos às 2h30m com estrondos fortes, mas não conseguíamos ver o que estava acontecendo. Estava muito escuro. Chovia forte e a água chegou a invadir nossa pousada. De repente, vimos pessoas no mar e fomos resgatá-las. Eram alguns hóspedes da pousada.

Sobreviventes foram levados para a Pousada do Preto

Os sobreviventes foram levados para a Pousada do Preto, que fica próxima. Entre eles, estavam os proprietários da Sankay Sônia Faraci Imanishi e Geraldo Faraci. Inconformados, eles buscavam a filha Iumi, de 18 anos, levada pela avalanche.

- Nós não vamos sair daqui. Ainda temos a esperança de encontrá-la - afirmou Sônia a um outro sobrevivente, pouco antes da confirmação da morte da jovem.

Das 65 pessoas que estavam na pousada no momento da tragédia, 62 conseguiram escapar. Além de Iumi, morreu um casal de estudantes que era amigo dela. Até ontem, tinham sido resgatados 19 corpos no Bananal, a maioria de veranistas. A maior parte das vítimas estava nas casas no entorno da pousada. Segundo as primeiras informações, dois grupos de turistas, um de Ilhéus, na Bahia, e outro de São Paulo, estariam entre as vítimas.

Jorge Aloy da Cruz contou que é morador do local e chegou a tentar salvar as vítimas:

- Corremos para ajudar, mas só conseguimos pegar duas ou três pessoas. Outras foram arrastadas. A força da água era muito grande.

Tião Arlindo Pereira, de 62 anos, contou que perdeu nove pessoas:

- Eu estava na casa do meu irmão e saí para ir a uma festinha. Quando voltei, só encontrei meu cunhado vivo - contou Tião.

Vando Pereira disse que, pela manhã, ligaram para sua casa e avisaram sobre o desabamento:

- Quando cheguei aqui, vi que não tinha mais jeito. Perdi três primos, um tio e alguns amigos. É uma sensação desesperadora.

Chorando muito, Luíza Pedroso contou que perdeu a filha, Odeli Pedroso, e o neto, Wellington:

- A casa deles ficou sob a lama.

Moradores da Ilha Grande disseram que o morro na enseada estava sendo invadido e uma casa, construída na encosta, informação não confirmada pelas autoridades. Além disso, a pousada teria instalado na colina cerca de dez caixas d'água de 10 mil litros.

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