Estância (poesia)

estrofe formada por mais de seis versos decassilábicos e hexassilábicos com rima consoante

Estância (do italiano stanza) é uma estrofe formada por mais de seis versos decassílabos e hexassílabos com rima consoante à vontade do poeta, e cuja estrutura se repete ao longo do poema.[1][2]

Luís Vaz de Camões, poeta que cultivou a estância.

Características editar

Nas composições poéticas formadas por estâncias - canção, ode e écloga - é obrigatório que as restantes estrofes sigam o mesmo esquema da primeira. Cada estrofe costuma conter entre doze e catorze versos. A estância difere da silva em que esta última não se divide em estrofes, nem repete nenhuma estrutura de rimas e pode incluir versos soltos, isto é, sem rima.

História editar

De origem provençal, cultivaram-na nas canções de tema amoroso os poetas florentinos do início do Renascimento, em particular Dante Alighieri e Francesco Petrarca, que incluiu várias no Canzoniere para romper a monotonia do soneto dominante. Em Espanha, a estância foi introduzida no primeiro terço do século XVI, pelos poetas Garcilaso de la Vega e Juan Boscán, assentando-a definitivamente para géneros literários líricos como a canção, a ode ou a écloga.

Em Portugal, pensa-se que o primeiro autor a compor uma canção em estâncias foi Sá de Miranda, após uma viagem a Itália, onde entrou em contacto com os modelos poéticos do dolce stil nuovo, tendo sido ele o propagador da estância na literatura portuguesa, que continuou muito popular, até se extinguir praticamente no século XIX. A estância foi amplamente utilizada por Camões, tanto para compor as suas famosas canções, como para escrever odes e éclogas.[3]

O italiano Giacomo Leopardi inventou, no século XIX, um outro tipo de canção em estâncias, a chamada "canção leopardina".

Estrutura editar

Possui uma distribuição repetida de rimas em várias estrofes sucessivas com o mesmo esquema métrico, cada uma das quais se divide em duas partes (a fronte, formada por dois pés de uns três versos cada um, e a sírima ou coda, também formada por dois pés de uns três versos) juntas ambas por um verso de enlace. Um possível esquema seria, portanto, ABCBAC (fronte) / cDdEeFF (coda), em que "c" é o verso de enlace, porque repete a última rima da fronte na coda (cf. écloga "Frondoso e Duriano, pastores", de Camões); note-se que as letras maiúsculas representam decassílabos e as minúsculas hexassílabos.

Se se estiver a compor uma canção, a série métrica conclui-se com um envio ou volta final de quatro versos ou apenas a coda de uma estância. O propósito do envio é indicar a quem se dedica o poema. Cada estância pode ter às vezes um último verso que sirva de estribilho ou bordão.

Exemplo de estância editar

Se este meu pensamento,

Como é, doce e suave,
De alma pudesse vir gritando fora,
Mostrando seu tormento
Cruel, áspero e grave,
Diante de vós só, minha Senhora,
Pudera ser que agora
O vosso peito duro
Tornara manso e brando.
E eu que sempre ando
Pássaro solitário, humilde, escuro,
Tornado um cisne puro,
Brando e sonoro pelo ar voando,
Com canto manifesto,
Pintara meu tormento e vosso gesto.

- Camões

Ver também editar

Referências editar

  1. Mario Pelaez (1936). «Stanza» (em italiano). Enciclopedia Italiana. Consultado em 21 de julho de 2017 
  2. S.A, Priberam Informática. «estância». Dicionário Priberam. Consultado em 7 de junho de 2023 
  3. José., Saraiva, António. História da literatura portuguesa. [1996?] 17a. ed., corr. e actualizada ed. [Porto, Portugal]: Porto Editora. ISBN 9789720301703. OCLC 35124986 

Bibliografia editar

  • Cuddon, J.A. A Dictionary of Literary Terms and Literary Theory. ISBN 9781444333275.
  • Joseph Berg Esenwein, Mary Eleanor Roberts, Art of Versification. Revised edition. Springfield: 1920.
  • Este artigo foi inicialmente traduzido do artigo da Wikipédia em espanhol, cujo título é «Estancia (poesía)», especificamente desta versão.

Ligações externas editar