Intervenção militar no Iêmen (2015–presente)

A Intervenção militar no Iêmen (português brasileiro) ou Iémen (português europeu) é uma ação armada feita por uma coalizão (coligação, em português europeu) de países (liderados pela Arábia Saudita) no Iêmen, começando em março de 2015. Os sauditas deram à ação o codinome (nome de código, em português europeu) Operação Tempestade Decisiva (em árabe: عملية عاصفة الحزم).[29] Desde 2011, após uma revolução que acabou com a ditadura do marechal Ali Abdullah Saleh, o Iêmen vive em profunda instabilidade interna. O país quase que imediatamente mergulhou em um profundo caos, onde a violência política, sectária e religiosa se espalhou pela nação. Entre setembro de 2014 e fevereiro de 2015, a milícia xiita houthi lutou e conseguiu derrubar o governo do general Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi. O presidente fugiu da capital, renunciando ao seu cargo, tomando refúgio na cidade costeira de Áden. Frente à aproximação de forças houthis, Hadi fugiu novamente, na virada do dia 25 para 26 de março de 2015, para a Arábia Saudita. Imediatamente, militares sauditas lançaram uma série de ataques aéreos contra o oeste e o norte do Iêmen, mirando os houthis e em milícias simpatizantes (ou antigoverno).[30][31]

Intervenção militar no Iêmen
Parte da Guerra Civil Iemenita (Crise Iemenita)

Um ataque aéreo saudita contra a cidade de Saná em 11 de maio de 2015

Situação do Iêmen:
  •   Territórios controlados pelos Houthis e por forças leais a Saleh
  •   Territórios controlados por militares leais a Hadi
  •   Territórios controlados pelo Ansar al-Sharia

Data Operação Tempestade Decisiva:
25 de março de 2015 - 21 de abril de 2015

Operação Restaurando a Esperança:
22 de abril de 2015 - presente
Local Iêmen
Desfecho Em andamento
Beligerantes
Arábia Saudita[1]
 Catar (até 2017)[1]
Kuwait[1]
 Emirados Árabes Unidos[1]
 Bahrein[1]

 Egito[2]
Jordânia[2]
 Marrocos[2]
Senegal
Sudão[2]

Apoio:

Iémen Comitê Revolucionário:

Apoio (alegado):

Irã Irã[5]
 Catar[6]
Hezbollah
Comandantes
Arábia Saudita Rei Salman

Arábia Saudita Mohammad bin Salman Al Saud
Arábia Saudita Fahd bin Turki bin Abdulaziz Al Saud
Arábia Saudita Mutlaq bin Salem bin Mutlaq Al-Azima
=Emirados Árabes Unidos Khalifa Zayid Al Nahyan
Egito Abdul Fatah Khalil Al-Sisi


Iémen Abd Rabbuh Mansur Hadi
Iémen Mohammed Ali al-Houthi
Abdul-Malik al-Houthi
Ali al-Shami

Ali Abdullah Saleh

Ahmed Ali Saleh (filho de Abdullah Saleh)[7]
Forças
Arábia Saudita 100 aviões[8] e
150 000 soldados mobilizados[8]
(segundo o governo saudita)

Catar 10 aviões (até 2017)[9]
Kuwait 15 aviões[9]
=Emirados Árabes Unidos 30 aviões[9]
Bahrein 15 aviões[9]
Jordânia 6 aviões[9]
Marrocos 6 aviões[9]
Egito 4 navios[10] e um número desconhecido de aviões[11]

Sudão 4 aviões[12]
100 000 combatentes houthis[13] e milhares de militares anti-governo
Baixas
Baixas confirmadas:

Arábia Saudita ~ 1 000 soldados mortos[14][15]
1 caça F-15E derrubado (falha mecânica)[16]
1 AH-64 Apache derrubado[17] e 1 danificado[18]
=Emirados Árabes Unidos 124 soldados mortos[19]
Bahrein 8 soldados mortos[20]
Catar 4 soldados mortos[21]
Marrocos 1 soldado morto
1 F-16 derrubado[22]

Segundo os Houthis:
Arábia Saudita 2 aviões abatidos[23]

Sudão 1 avião abatido e o piloto capturado[24]

1 drone derrubado (origem desconhecida)[25]
Desconhecidas (presume-se muito altas)

+ 11 000 mortos (segundo a coalizão árabe)[26]
+ 12 907 pessoas mortas no período da intervenção[27]
150 000 pessoas deslocadas de suas casas[28]

Após os primeiros ataques aéreos sauditas, uma coalizão se formou. Aviões de guerra do Egito, Marrocos, Jordânia, Sudão, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Qatar e Bahrain também lançaram seus próprios ataques. Em apoio à Arábia Saudita, que enviou também soldados de infantaria para a região, os egípcios e jordanos também mobilizaram forças terrestres. O Paquistão, apesar de nutrir hostilidade contra os houthis, decidiu permanecer neutro mas tacitamente apoiou a intervenção.[2] O governo do Irã condenou os ataques. Segundo fontes de inteligência locais e do Ocidente, os iranianos apoiam, militar e financeiramente, as milícias houthis.[32]

Os ataques aéreos da coalizão árabe atingiram alvos dos houthis em várias localidades no Iêmen, mas principalmente nas regiões oeste e norte. A capital Saná, que está em mãos dos rebeldes xiitas desde o começo de 2015, foi uma das cidades mais atingidas nos bombardeios. Os aliados afirmaram que expandiriam suas ações militares na região, sob o pretexto de trazer novamente a estabilidade ao Golfo Pérsico.[31]

Somente no dia 27 de março, já haviam morrido mais de 34 civis nos bombardeios.[33] No começo de abril, apesar dos intensos ataques aéreos e de altas fatalidades infligidas, o sucesso da intervenção parecia longe de certo, já que os houthis continuavam avançando. Enquanto isso, grupos extremistas como a Ansar al-Sharia (ligada a al-Qaeda) exploravam a situação caótica no país para aumentar sua área de influência e controle.[34]

Em meados de abril, com a intensificação dos ataques aéreos, o Irã, principal aliado dos rebeldes Houthis, enviaram para a região pelo menos nove navios de guerra que supostamente levariam armas aos seus aliados. Os Estados Unidos, em apoio aos países do Golfo que combatem os Houthis, enviaram o porta-aviões USS Theodore Roosevelt (CVN-71), junto com outros dois navios, para tentar barrar a chegada das embarcações iranianas, em um movimento que ameaçava escalar o conflito.[35] Dias depois, o comboio de navios iranianos deu meia volta e retornaram ao seu porto de origem sem desembarcar sua carga no Iêmen.[36]

Em 21 de abril de 2015, a Arábia Saudita anunciou que encerraria suas missões de combate no Iêmen,[37] afirmando que seus objetivos de garantir a segurança da península já haviam sido alcançados.[38] A Coalizão regional afirmou que substituiria as investidas militares por esforços de paz por meio de ações políticas e sociais, mas não descartaram novos bombardeios no futuro. A nova missão foi batizada de Operação Restaurando Esperança (em árabe: عملية إعادة الأمل).[39][40] Enquanto isso, o conflito no Iêmen não diminuía de intensidade, com diversas facções se digladiando por supremacia.

Apesar das autoridade sauditas terem dito que o fim da Operação Tempestade decisiva encerraria os bombardeios, eles se reservariam ao direito de atacar o país vizinho, se necessário. De fato, ataques aéreos contra o Iêmen por aviões da Arábia Saudita e seus aliados do golfo pérsico voltaram a acontecer logo em seguida a declaração de que o conflito havia entrado em uma nova fase ainda em 2015, se extendendo para os próximos anos.[41]

Desde 2019, o conflito tem sido descrito como um "impasse militar".[42] A Pandemia de COVID-19 teria dado uma oportunidade para o governo saudita de reavaliar suas intenções e interesses no Iêmen.[43] No começo de 2020 a Arábia Saudita começou a buscar saídas diplomáticas para a guerra, frente as consequências da pandemia e derrotas nos campos de batalha.[44]

A intervenção militar saudita na guerra iemenita tem recebido duras condenações internacionais, que acusam a coalizão árabe, especialmente a Arábia Saudita (e as nações ocidentais que os apoiam), de bombardeio indiscriminado contra civis e outros crimes de guerra. Durante o período da intervenção, a situação de segurança na região não melhorou, ao mesmo tempo em que a crise humanitária se deteriorou consideravelmente, com muitos afirmando ser um grande "desastre humanitário".[45][46] Devido ao bloqueio imposto ao país, cerca de 78% da população iemenita (quase 20 milhões de pessoas) tem acesso quase impossível a comida, água e remédios.[45] Além da carestia, doenças (como cólera) se espalharam pelo país, fazendo milhares de vítimas.[47] Mais de 1 milhão de pessoas tiveram que deixar suas casas devido aos bombardeios.

Crise humanitária editar

Segundo a Human Rights Watch, a coalizão liderada pela Arábia Saudita e integrada por Bahrein, Egito, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Kuwait, Marrocos, Qatar e Sudão realizou ataques aéreos indiscriminados a alvos civis, como um laticínio, onde morreram 31 trabalhadores. Além de fábricas dedicadas a fins civis, os ataques também destruíram bairros residenciais. Um centro de armazenamento da Oxfam, onde eram guardados mantimentos e material para ajuda humanitária, também foi atingido.[carece de fontes?]

Durante a Operação Tempestade Decisiva, 1.080 pessoas foram mortas, sendo a maioria constituída de civis; outras 4.352 pessoas ficaram feridas e cerca de 150.000 foram deslocadas dos seus lares, o que cria uma situação de crise humanitária de grande escala no país.[28][39]

Imagens editar

Ver também editar

Referências

  1. a b c d e «Gulf Arabs say they are defending Yemen against aggression». The Daily Star. Consultado em 30 de março de 2015 
  2. a b c d e f «Egypt, Jordan and Sudan ready for ground offensive in Yemen.: report». the globe and mail. 26 de março de 2015. Consultado em 28 de março de 2015 
  3. "U.S. Confirms It Is Supporting Saudi Military Operations In Yemen". Página acessada em 29 de março de 2015.
  4. "Pakistan agrees to send ships to block arms shipments to Yemen rebels" Arquivado maio 5, 2015 no WebCite . Página acessada em 22 de abril de 2015.
  5. "Iran-Backed Houthi Militants Seize Sensitive US Intelligence Documents In Yemen". Página acessada em 29 de março de 2015.
  6. «How did Qatar back the Houthis in Yemen?». Egypt Today. 3 de agosto de 2017. Cópia arquivada em 22 de novembro de 2017 
  7. «'Decisive Storm' besieges Houthis». The Daily Star Newspaper - Lebanon. Consultado em 28 de março de 2015 
  8. a b "Saudi Arabia launches airstrikes in Yemen". Página acessada em 29 de março de 2015.
  9. a b c d e f "Saudi ‘Decisive Storm’ waged to save Yemen". Página acessada em 29 de março de 2015.
  10. «Four Egyptian warships en route to Gulf of Aden». Ahram Online. Consultado em 29 de março de 2015 
  11. «Egypt navy and air force taking part in military intervention in Yemen: Presidency». Ahram Online. Consultado em 29 de março de 2015 
  12. «Sudan denies plane shot down by Yemen's Houthis». World Bulletin. 28 de março de 2015. Consultado em 29 de março de 2015 
  13. "Thousands Expected to die in 2010 in Fight against Al-Qaeda". Página acessada em 29 de março de 2015.
  14. «More than 1,000 Saudi troops killed in Yemen since war began» 
  15. «Saudi soldier killed by Yemen fire, one dead in crash» 
  16. "U.S. Rescues Two Saudi Fighter Pilots After Splashdown Near Yemen". Página acessada em 29 de março de 2015.
  17. «Saudi Soldier Killed in Exchange of Fire With Yemen Rebels» 
  18. «Two Saudi pilots killed in crash near Yemen» 
  19. WAM. «UAE loses another soldier in Saudi-led Operation Hope – Khaleej Times». khaleejtimes.com 
  20. «Bahrain says three soldiers in Yemen coalition killed». Dunya News 
  21. «Three Qatar soldiers killed in Yemen» 
  22. «Moroccan F-16 jet from Saudi-led coalition in Yemen crashes». Reuters UK. Consultado em 11 de maio de 2015 
  23. "Yemeni air defense unit downs Saudi jetfighters" Arquivado em 2 de abril de 2015, no Wayback Machine.. Página acessada em 29 de março de 2015.
  24. "اسقاط طائرة سودانية في صنعاء والقبض على الطيار" Arquivado em 30 de março de 2015, no Wayback Machine.. Página acessada em 29 de março de 2015.
  25. "Houthis shoot down 'hostile' drone in Yemen's capital". Página acessada em 29 de março de 2015.
  26. «Arab Coalition: 83 ballistic missiles fired by Houthis toward Saudi Arabia so far». Saudi Gazette. Consultado em 5 de junho de 2018 
  27. "Yemen's guerrilla war tests military ambitions of big-spending Saudis". Página acessada em 28d e julho de 2016.
  28. a b "Former president defiant as humanitarian toll mounts in Yemen war". Página acessada em 22 de abril de 2015.
  29. «Saudi warplanes bomb Houthi positions in Yemen». Al Arabiya. 25 de março de 2015. Consultado em 29 de março de 2015 
  30. «Yemeni's Abed Rabbo Mansour Hadi arrives in Saudi capital». CBC news. Consultado em 26 de março de 2015 
  31. a b "Arábia Saudita inicia ataques contra rebeldes xiitas no Iêmen". Página acessada em 30 de março de 2015.
  32. "Iran condemns Saudi Arabia's air strikes in Yemen". Página acessada em 29 de março de 2015.
  33. «Yemen: Saudi-Led Airstrikes Take Civilian Toll». HRW. Consultado em 29 de março de 2015 
  34. "Saudi Leaders Have High Hopes for Yemen Airstrikes, but Houthi Attacks Continue". Página acessada em 7 de abril de 2015.
  35. "U.S. aircraft carrier sent to Yemen in response to Iran". Página acessada em 20 de abril de 2015.
  36. "Iranian Ships Turn Back From Yemen After Standoff". Página acessada em 23 de abril de 2015.
  37. «Yemen conflict: Saudi Arabia ends air campaign». BBC. 21 de abril de 2015 
  38. «Yemen conflict: Iran urges aid effort as Saudi air strikes end». BBC. Consultado em 22 de abril de 2015 
  39. a b Arábia Saudita bombardeia Iêmen e depois oferta "ajuda" milionária. Carta Maior, 27 de abril de 2015
  40. «With military objectives achieved, focus shifts to the political process». Consultado em 22 de abril de 2015 
  41. «Yemen conflict: Saudis launch new air strikes on rebels». BBC. 23 de abril de 2015 
  42. «Yemeni Separatists Relinquish Control of Buildings in Aden». The New York Times. Reuters. 17 de agosto de 2019. Consultado em 4 de setembro de 2019 
  43. Ben-Meir, Alon (18 de abril de 2020). «The Saudis' War in Yemen Is a Crime Against Humanity». The Globalist. Consultado em 25 de abril de 2020 
  44. «Saudi Arabia and the War in Yemen - Riyadh's Retreat». Zenith Magazine. 21 de abril de 2020. Consultado em 22 de abril de 2020 
  45. a b Borger, Julian (5 de junho de 2015). «Saudi-led naval blockade leaves 20 m Yemenis facing humanitarian disaster». The Guardian. Consultado em 31 de outubro de 2018 
  46. «Durable ceasefire needed as 'humanitarian catastrophe' leaves millions suffering in Yemen – UN relief chief)». UN News Centre. 28 de julho de 2015. Cópia arquivada em 29 de julho de 2015 
  47. «Yemen cholera outbreak accelerates to 10,000+ cases per week: WHO». Reuters