Síntese de declarações à imprensa do Governador Vítor Constâncio a propósito da crise do crédito hipotecário de alto risco (subprime) nos Estados UnidosRazões e consequências da crise do subprimeA crise do crédito hipotecário de alto risco (subprime) nos
Estados Unidos não tem assumido proporções maiores do que se previa, mas
os excessos cometidos e a distribuição do risco por muitos agentes em
vários países que compraram títulos e instrumentos derivados associados
a esse crédito criaram um problema de falta de informação sobre quem é
que vai suportar as perdas do incumprimento desse crédito imobiliário e
sobre a dimensão dessas perdas. É isso que explica a quebra de liquidez
em vários mercados. Actuação do BCEAs intervenções iniciais do BCE normalizaram o mercado monetário
interbancário até uma semana, tendo sempre conseguido trazer a taxa do
overnight para valores próximos da taxa definida pela política
monetária. Mas, visto que não tem existido uma transmissão para prazos
mais longos, por não existirem agentes financeiros dispostos a
transaccionar para essas maturidades, o Conselho de Governadores do BCE
decidiu fazer uma intervenção extraordinária a 3 meses de 40 mil milhões
de euros, realizada no final de Agosto, e no dia 6 de Setembro decidiu
realizar outra na semana seguinte, sem fixar previamente quer a
quantidade quer a taxa. O objectivo foi introduzir liquidez a prazos
mais longos, de forma a estimular os agentes a recomeçar a transaccionar
nesses prazos. Situação do sistema financeiro portuguêsDe acordo com o levantamento que o Banco de Portugal fez junto das
instituições bancárias, a exposição, directa e indirecta, aos
instrumentos associados ao mercado americano subprime não tem
praticamente expressão no total do balanço do sistema bancário. O Banco
de Portugal analisou também com as instituições bancárias a situação de
liquidez, actual e previsional, bem como a dos respectivos mecanismos de
gestão. Estes eram os aspectos imediatamente mais importantes a
analisar. Evidentemente, a evolução dos mercados em geral e para além
dos associados ao problema do mercado subprime poderá vir a
revelar outros problemas de valorização de activos. De qualquer forma,
as avaliações internacionais feitas recentemente aos bancos portugueses
confirmam a sua robustez e capacidade de resistir a choques. É
certamente isso que justifica que desde o início da turbulência actual
os preços dos títulos emitidos pelos bancos portugueses tenham
acompanhado estritamente a evolução dos índices médios do sector
bancário europeu. Impactos nas economias portuguesa e europeiaAs previsões que o Conselho de Governadores analisou na sua reunião
de 6 de Setembro revelam um cenário central em que o crescimento da área
do euro em 2007 e 2008 é revisto em baixa em apenas 0,1%. Os dados
fundamentais que têm alimentado a recuperação económica europeia e
portuguesa mantêm-se ainda. Ao contrário dos Estados Unidos, a Europa
não tem um problema geral de incumprimentos e queda de preços no mercado
imobiliário. Naquele cenário central, que implica a normalização do
funcionamento dos mercados financeiros a curto prazo, a redução do
crescimento seria, pois, muito ligeira e pouco relevante também para
Portugal. A regulação e supervisão de instituições e mercados financeirosÉ preciso repensar os sistemas de regulação e supervisão de
instituições e mercados financeiros. Isso pode envolver aspectos como o
papel das agências de rating; as normas sobre a transparência de
divulgação de exposições de vários tipos de instituições, incluindo
hedge-funds e outros veículos financeiros (SIV - structured
investment vehicles); os regulamentos sobre exigência de rácios de
capital; as regras sobre a comercialização de produtos financeiros, de
forma a torná-los menos complexos e opacos junto de clientes e
investidores, etc. 13 Setembro 2007 |